Clarabóias de verão

Depois de brincar no teu jardim
subia as escadas e esgueirava-me para o sótão.
A porta abria e eu ficava na soleira
a ver o vento nos moinhos
e a luz desatinando as velas.
Depois avançava através dos lençóis estendidos
com a espada do pau de uma cadeira.
O doce fru-fru do vento ondulava
nos lençóis e figuras de sol projectavam no ecrã
guerras secretas que logo as empregadas delatavam.
Um castigo de criança era a vil vergonha
para tão gloriosos feitos. Deitada na cama antes
da hora escutava ainda a melodia chegando

Atrás dos dias

ao Hugo

An(á)fora

As coisas vêm do futuro para se perderem
na sombra.
No breve momento de que são feitas
podem ser invocadas
«estas», «as coisas», «aqui»
mas a nossa voz pertence sempre ao passado

Eis porque toda a coisa
espera de nós uma crença total no tempo,
uma continuidade trémula que permita dizer as horas
a quem passa
como se estivéssemos a ocultar a ignorância
que de si mesma fala no poema
acreditando que é possível regressar
antes das coisas que gastámos sem sequer as ver

A ventura marítima

É à noite que as traineiras descem o rio,
o ruído do motor não abafa o marulhar da água,
parecem pirilampos com nomes de mulher:
Rosinha, Salette, Princesa dos Mares,
deslizam por entre esgotos, sacos
e garrafas de plástico, a aventura marítima
está povoada com novos artefactos. É preciso
sacudir o petróleo do peixe, escová-lo, desligar
o interruptor para que o mercúrio se torne invisível
e as peixeiras mostrem as guelras do saudável
cherne de boa linhagem. Já nada é o que era

A divisibilidade dos aromas

A divisibilidade dos aromas

Pela janela vem o cheiro da manhã, da relva
e das rosas salpicadas de fresco que se casam com o cheiro
dos lençóis sonolentos. Ao bater a porta já só sinto
o meu perfume, o que pomos por cima das certezas
e das dúvidas, por cima dos segredos que trespassam a pele.
Em breve me confundirei com o cheiro dos outros, daquele homem
vergado pelo saco de batatas, da florista a compor as margaridas,
da peixeira à porta da vizinha mostrando as goelas sangrentas
(talvez porque se tenha levantado cedo e apregoar assim

A irreversibilidade do tempo

Não te importes amor
se tivermos a alma em desalinho.
Amanhã cortaremos as sombras do quintal
sem acreditar que as sombras devam ser
sombrias. Mas é reconfortante acreditar na língua
e na sabedoria popular
e em tudo o que nos torna cúmplices.

VROMANS Marie-Claire

Les Poétiques de Lisboa

Conférence de Rosa Alice BRANCO

Scontri di 15.03.2002

Dans ses Salons, Diderot croyait que s’il avait beaucoup d’imagination et de goût, s’il avait une grande et forte maîtrise de la narration, il réussirait à décrire un tableau de telle façon qu’en l’écoutant on pourrait pour ainsi dire voir ce tableau. Moi, je ne suis pas Diderot et je sais qu’on ne peut pas combler ce hiatus, qu’on ne peut pas donner à entendre un tableau, et a fortiori, un tableau animé et vivant, qui ne cesse de se mouvoir et de nous surprendre.

A última consoante

Rosa Alice nous a comblés de cadeaux : « Les Poétiques de Lisboa », une brillante conférence qui est une invitation
au voyage, son dernier recueil « O beijo do infinito / Le baiser de l’infini » tout récemment publié à Genève où elle a séjourné avant de venir à Corti, son intelligence et son enthousiasme, et puis ce poème écrit au moment de quitter l’île :

Poesias Tessias

Hè u titulu di un’operazione chì aghjunghje arte di a tessitura, literatura è teatru. Rosa Alice Branco è Maram al-Masri anu scrittu ognuna un puema oghje integratu in u spettaculu POESIAS TESSIAS (issi puemi sò dinò cantati in u spettaculu)
Truverete quì:
1 - U prugettu è a so descrizzione
2 - A fola di l’invenzione di u tilaghju (in versione taliana è francese)
3 - I puemi di e nostre amiche puetesse

Pages