... a puberdade fêmea, aqui, assim :

é o instante da festa, do adorno
da floração que frutifica logo
em geração...

.... é o próprio lume da infância:

é quando o corpo
augura o porte
de uma mãe futura
e a carne da mulher
vem dar volume à graça
da menina ainda...

... a graça esguia se arredonda então:

e o encanto é o do encontro
da infância que cede
a uma primeira cria.

ardeu o dia todo
entregue à cor da tarde
e aconteceu por fim o que aguardava :

e deu-me o pão e deu-me o peixe
surto com raiva aos areais fecundos.

e eu partilhei com ele o escasso vinho ...

... não era nem tempo de velar sozinho ...

amigo do rei, tu entras. sentas-te aqui
frente às cabaças que a cura dos grãos enriqueceu de cheiros. vou chamar
minhas esposas para dizer-lhes: eis o amigo do rei. e olhar-te-ão com olhos
que me excedem porque me excedo quando lhes pergunto: não sou bastante rei
para introduzir em casa o fim das dinastias?
não sou bastante rei para ler na cinza
a predição da vossa despedida
os gestos da recusa dos meus filhos
a poeira no punho das insígnias
e o fogo extinto no portal do altar ?

há formas muito antigas
pedindo uma leitura
que anteceda a escrita.

na geografia há dobras
onde só chega a voz
que é despojada e sóbria.

caminhos há
que os anos conservaram
imutáveis e inúteis.

há pedras que perduram
sem que ninguém as saiba.

rostos existem
que iludem as eras
e apenas relevam
os sinais da idade.

há gestos que repetem
outros gestos
e corpos velhos
a temperar a juventude de outros.

Une pluie autre pluie
Lave des pierres
Des chiens errants
Sur les ruelles du moyen âge

L’ange tombe en corps
Non - achevé
Déchiré il se met à vagabonder
Des poussiéreuses contrées

A l’arrière de la maison du sommet des lauriers
Sa voix
Eventra
L’air avant l’aube

Le grand poisson
Gémit dans le chemin
Terriblement mort
Lorsque la pluie grignota sur les toits

Que nous sommes loin du serein
Inutilité boue visqueuse et absinthe
Je suis vivant et mort
Mort et vivant

dans le pays qui ne me connaît pas
le temps déchiré
un œil crevé
gît dans un coin de rue
dans la pénombre d’un pays où
le sommeil est le seul vestige de mon savoir
de vivre de sentir de m’abriter
coup d’œil sur un amour glacé
dans l’atelier du sculpteur susceptible
d’être resté enfant jusqu’à la mort
il chasse la lune plongée au tréfonds de lui-même
dans sa façon de voir rien qui ressemble à la folie
de maïs le ventre de la lune dévoré par la faim
du rêveur aux dents qui rompent la croûte de la magie

Doré dolmen au bout de la forêt folle
une femme sur le toit
demi cocotte demi chatte
a un air de Juliette sa robe décolleté en satin
elle veut séduire le ciel de bambou rouge
des perles d’or et d’argent se mêlent
aux essences de fleurs
aux sèves de bois
le ciel va se couvrir
des pluies fantastiques de jade son visage
jeudi soir au cœur de l’hiver

Corti, le 19 décembre 2004