Terrazza di caffè
Trad. Ghjuvan Maria Comiti
Trad. Ghjuvan Maria Comiti
O cão tinha um nome
por que o chamávamos
e por que respondia,
mas qual seria
o seu nome
só o cão obscuramente sabia.
Olhava-nos com uns olhos que havia
nos seus olhos
mas não se via o que ele via,
nem se nos via e nos reconhecia
de algum modo essencial
que nos escapava
ou se via o que de nós passava
e não o que permanecia,
o mistério que nos esclarecia.
Onde nós não alcançávamos
dentro de nós
o cão ia.
E aí adormecia
dum sono sem remorsos
e sem melancolia.
Então sonhava
Também eu ceei com os doze naquela ceia
em que eles comeram e beberam o décimo-terceiro.
A ceia fui eu, e o servo; e o que saíu a meio;
e o que inclinou a cabeça no Meu peito.
E traí e fui traído,
e duvidei, e impacientei-me, e descartei-me;
e pus com Ele a mão no prato e posei para o retrato
(embora nada daquilo fizesse sentido).
Não subi aos céus (nem era caso para isso),
mas desci aos infernos (e pela porta de serviço):
comprei e não paguei, faltei a encontros,
cobicei os carros dos outros e as mulheres dos outros.
O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,
A minha juventude passou e eu não estava lá.
Pensava em outra coisa, olhava noutra direcção.
Os melhores anos da minha vida perdidos por distracção!
Rosalinda, a das róseas coxas, onde está?
Belinda, Brunilda, Cremilda, quem serão?
Provavelmente professoras de Alemão
em colégios fora do tempo e do espa-
ço! Hoje, antigamente, ele tê-las-ia
amado de um amor imprudente e impudente,
como num sujo sonho adolescente
de que alguém, no outro dia, acordaria.
Pois tudo era memória, acontecia
há muitos anos, e quem se lembrava
Autore purtughese, hè natu in u 1943. Licenziatu di drittu, fù durante 30 anni ghjurnalista. A so opera hè diversa: puesia, cronache, assaghji, literatura da giovani, teatru. Hè tradutta in parechje lingue, Espagna, Francia, Danemarcu, Olanda, Bulgaria, Cruazia, Stati Uniti. Hà ripresentatu in parechje occasione officiale- Fiera di u Libru in Francfordu, Salottu di u Libru in Pariggi, Salottu di u Libru in Ghjenuve- a literatura portughesa.
On the ferry out we talk about marvels:
The poet that left a mistress for his wife -
And translate images; they break the surface
Of our talk like new islands. To the west
A red heart bleeds over the airstrip,
To the east, licked by terra cotta flames
A Daz-white angel is fighting the devil for a soul-
He pulls desperately on one leg
But the devil has him by the head. The soul
Scorched and nearly torn in two
Is wearing a bainin jacket and Reebok trainers -
What, you ask, made me want to get away?
Things that happened. Or didn¹t - you know how it is.
A dream of wrecked ships across the moon,
The belief, growing into certainty, that I was born
In Fuento Vaqueros in Southern Spain.
Years later, when an old man handed me
a red carnation in the Granada sun
I knew I had followed the right dream.
St. Brigid's Day comes storming in
I make my act of faith in Spring.
The mystery of planting - what grows
In bleak or lush places is on us.
A courgette swells from orange flowers
And the untilled rock yields sea thrift.
We reaped the wind and you came
Child of hibiscus and cinnamon.
No statue from a cold museum
You spark and shine through every room
In the house. Home is the husk.
Soon you will shuck it off to go dancing.
Mary O’Malley hè nata in u Connemara, in Irlanda. S’hè stata parechji anni in Portugallu induve sò nati i so dui figlioli. Fù eletta à l’Accademia irlandesa di l’artisti in u 1998. Cullabureghja assai cù a televisiò è a radiu, ci presenta parechji prugrammi di lettura literaria. E so ultime publicazione sò: A consideration of Silk, 1990; Where the Rocks float, 1993; Asylum Road, 2001.