Versione :
Uriginale

Terrazza di caffè

Trad. Ghjuvan Maria Comiti

O nome do cão

O cão tinha um nome
por que o chamávamos
e por que respondia,
mas qual seria
o seu nome
só o cão obscuramente sabia.
Olhava-nos com uns olhos que havia
nos seus olhos
mas não se via o que ele via,
nem se nos via e nos reconhecia
de algum modo essencial
que nos escapava
ou se via o que de nós passava
e não o que permanecia,
o mistério que nos esclarecia.
Onde nós não alcançávamos
dentro de nós
o cão ia.
E aí adormecia
dum sono sem remorsos
e sem melancolia.
Então sonhava

D’après D. Francisco de Quevedo

Também eu ceei com os doze naquela ceia
em que eles comeram e beberam o décimo-terceiro.
A ceia fui eu, e o servo; e o que saíu a meio;
e o que inclinou a cabeça no Meu peito.
E traí e fui traído,
e duvidei, e impacientei-me, e descartei-me;
e pus com Ele a mão no prato e posei para o retrato
(embora nada daquilo fizesse sentido).
Não subi aos céus (nem era caso para isso),
mas desci aos infernos (e pela porta de serviço):
comprei e não paguei, faltei a encontros,
cobicei os carros dos outros e as mulheres dos outros.

Na biblioteca

O que não pode ser dito
guarda um silêncio
feito de primeiras palavras
diante do poema, que chega sempre demasiadamente tarde,
quando já a incerteza
e o medo se consomem
em metros alexandrinos.
Na biblioteca, em cada livro,
em cada página sobre si
recolhida, às horas mortas em que
a casa se recolheu também
virada para o lado de dentro,
as palavras dormem talvez,
sílaba a sílaba,
o sono cego que dormiram as coisas
antes da chegada dos deuses.
Aí, onde não alcançam nem o poeta
nem a leitura,

Numa estação de metro

A minha juventude passou e eu não estava lá.
Pensava em outra coisa, olhava noutra direcção.
Os melhores anos da minha vida perdidos por distracção!
Rosalinda, a das róseas coxas, onde está?
Belinda, Brunilda, Cremilda, quem serão?
Provavelmente professoras de Alemão
em colégios fora do tempo e do espa-
ço! Hoje, antigamente, ele tê-las-ia
amado de um amor imprudente e impudente,
como num sujo sonho adolescente
de que alguém, no outro dia, acordaria.
Pois tudo era memória, acontecia
há muitos anos, e quem se lembrava

PINA Manuel António

Autore purtughese, hè natu in u 1943. Licenziatu di drittu, fù durante 30 anni ghjurnalista. A so opera hè diversa: puesia, cronache, assaghji, literatura da giovani, teatru. Hè tradutta in parechje lingue, Espagna, Francia, Danemarcu, Olanda, Bulgaria, Cruazia, Stati Uniti. Hà ripresentatu in parechje occasione officiale- Fiera di u Libru in Francfordu, Salottu di u Libru in Pariggi, Salottu di u Libru in Ghjenuve- a literatura portughesa.

Macchu Picchu, inis mor

For Pura Lopez Colome

On the ferry out we talk about marvels:
The poet that left a mistress for his wife -
And translate images; they break the surface
Of our talk like new islands. To the west
A red heart bleeds over the airstrip,
To the east, licked by terra cotta flames
A Daz-white angel is fighting the devil for a soul-
He pulls desperately on one leg
But the devil has him by the head. The soul
Scorched and nearly torn in two
Is wearing a bainin jacket and Reebok trainers -

The spanish lady

What, you ask, made me want to get away?
Things that happened. Or didn¹t - you know how it is.
A dream of wrecked ships across the moon,
The belief, growing into certainty, that I was born
In Fuento Vaqueros in Southern Spain.
Years later, when an old man handed me
a red carnation in the Granada sun
I knew I had followed the right dream.

The lightcatchers

For Maeve on her eleventh birthday

St. Brigid's Day comes storming in
I make my act of faith in Spring.
The mystery of planting - what grows
In bleak or lush places is on us.
A courgette swells from orange flowers
And the untilled rock yields sea thrift.

We reaped the wind and you came
Child of hibiscus and cinnamon.
No statue from a cold museum
You spark and shine through every room
In the house. Home is the husk.
Soon you will shuck it off to go dancing.

O’MALLEY Mary

Mary O’Malley hè nata in u Connemara, in Irlanda. S’hè stata parechji anni in Portugallu induve sò nati i so dui figlioli. Fù eletta à l’Accademia irlandesa di l’artisti in u 1998. Cullabureghja assai cù a televisiò è a radiu, ci presenta parechji prugrammi di lettura literaria. E so ultime publicazione sò: A consideration of Silk, 1990; Where the Rocks float, 1993; Asylum Road, 2001.

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