Este lado do tempo

Não saí da infância
das suas vozes agarradas ao coração da pele
do tempo que se esquece do tempo
onde brota uma fonte que está ainda
a começar.

Não comas nunca sem fome
nem o fruto imaginário que cresce
quando se vê daqui.
Nunca sacies, nunca desejes
nunca tenhas fome.
Basta uma sede de lavar as mãos
de multiplicar a água que lavra a terra
que atravessa todas as memórias
que pudesses ter
para que tenhas
um pouco de luz e apenas a sua sombra.

Alguém assim falou deste lado do tempo
e nenhuma outra voz se assemelha
à voz que inventas
para respirar o aroma dos figos.

(inédito)