A última consoante

Rosa Alice nous a comblés de cadeaux : « Les Poétiques de Lisboa », une brillante conférence qui est une invitation
au voyage, son dernier recueil « O beijo do infinito / Le baiser de l’infini » tout récemment publié à Genève où elle a séjourné avant de venir à Corti, son intelligence et son enthousiasme, et puis ce poème écrit au moment de quitter l’île :

Como se tivesse voltado à infância onde tudo coincide
para escapar à verdade. Mais estreita a verdade
do que a estrada de ravina. A tua voz acaricia-me
as vogais no cimo, sobre Bastia, a montanha e o mar
são a mesma coisa, as casas salgadas, algas à porta
e um cão rebolando-se na areia. O perfume da erva,
dos aromas que abres com a tua chave. Talvez usasses calções
e tivesses os bolsos cheios de nada quando a tua voz
só sabia dizer sim. Como nesse dia, acreditas que "Pacà, pacarà ella!"
e tiras do bolso o gesto majestático de uma miúda
de dez anos. Foi aqui que o meu corpo se desembaraçou
da última consoante. Mais tarde, quando entrei no oratório
de Santa Croce o cristo olhou-me sereno e sem sofrimento
e percebi que não precisou de morrer para nos salvar.