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Tataouine

(Deserto - o pequeno Emir dos Tuaregues)

O que devo é escrever
Agitando-me entre o meu eco e a voz
Entre o meu eco e a morte
Caminhando sobre as minhas artérias:
Esta corda estendida ... lentamente
Retendo-me entre o polegar e o médio
E descendo a tua escada que se despenha
Onde o sono treme sobre o polegar do sonho
Para escutar a areia, as gotas das goteiras
O galope dos cavalos, passos doces atravessando
A noite do deserto
Onde planam quimeras em voo prateado
Onde a sombra: poeira azul,
Sobe do abismo até ao céu verde
Onde o meu coração terá uma pele rubra
Em forma de pássaro
Que hei-de lançar ao falcão
E caminharei no ouro do vento
(Eu, o mais insólito de entre os meus semelhantes)
Num corredor de colares de mármore,
Até à morada dos berberes e aos seus celeiros.
- - - -

Não longe daqui! Em breve serás riscado da lista dos vivos
Ensina o Moncef a estar entre os mortos
Em Matos e em Bomary
Como erigir para eles uma missa
Como lhes preparar, neste horizonte ferido,
Um jantar secreto
(Os mortos, como morrem!)
Ensina o Moncef a desempenhar
Umas vezes o papel dos que despistam o rasto,
Outras, o papel dos príncipes!
É o fim do mundo
Ou o seu começo
Que importa
Se prendes os cavalos ou os libertas
Só há tendas de aves migratórias
Só dunas dobradas em vez de lenços de seda
(que secavam o frio das tuas noites)
Só as janelas cegas do palácio
(mechas de prata cintilando na luz azul)
Só as catacumbas
Só o príncipe, mudo como ouro
Sereno como a seda
Rolando na erva ainda a despontar
Ou prosternando-se nas tábuas de Imazigh,
Tal como nos inclinamos sobre o poço,
Ou brotando como a seiva sob a casca.
Ele vê a pedra cristalina
( É a noite descendo das alturas)
E o esquife balouçando no Mediterrâneo
Vê a falésia em verde cobre
E o farol piscando como um falcão ferido
Até à lonjura
O pequeno príncipe já não se lembra
De onde e como veio!
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(Avancemos mais ainda!)
Há uma tenda em pele de bovino
Onde a água baptiza o nosso vinho
Saúdo aos meus companheiros de estrada
Até ao fim do meu canto
Agitamos tochas nos cimos de Matos ou
Descemos guiados por conchas de estrelas
Por árvores calcinadas ou vestígios de dinossauros
Vemos nascer prados de rosas de areia
Nascimento do deserto!
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Haverá ruínas mais belas do que as minhas?
Tendo partido a deusa do deserto e só deixando
Louça cerâmica nos fornos
Pó de marfim ardido para o teu corpo
O rasto do vento enrola-se na argila de Tlekht
A sombra do meu silêncio precede-me de longe
Mas para que norte ou que sul
Inclinei o coração
Sem chegar ao fim do deserto
Como se não tivesse mudado de lugar
Como se as montanhas de Hogar
Me acompanhassem
Como se eu fosse uma esfera rolando!
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Aí, onde não há fim
Começa a jornada do emir
Uma morada de juncos entrançados, de palmas e de argila
Da janela vê-se o rio Igarcar
Correndo órfão para o norte até Tekrout
E caravanas de Gat carregadas de incenso do Sudão, goma
Arábica, moscada
Carregadas de ébano, de murta e de marfim
(Avancemos mais
até Wadi Nakrif
Chegaremos a Ifrikia, de madrugada, através das fontes!)
E a terra balouçava sobre uma sela de madeira
Ou sobre um alforge de pele de cabra
Oh deserto, uma vez mais atravessado,
Como as tuas areias lançaram na confusão
O azul das nossas caravanas?
Como? E nós que substituímos
O sol pelo canto do galo
Das coisas só conhecemos
O mutismo, a surdez e a cegueira?
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Que tudo o que é belo em nós
regresse!
O dia agita-se, os nossos corpos ressequidos
Flutuam sob um tecto de chumbo
Que regresse uma ..duas...três vezes!
Sob o céu indiviso
O vento inclina-se
E o fogo veste-se com a forma da noite.
Assim seja!
Para o pequeno príncipe
O desabrochar de palavras pequenas
Que se repelem ou atraem
Na brancura
Todas as vezes que a morte vem
É ele quem deve calar-se e esconder-se na gruta
Como um animal
Saudando pela última vez,
Através de uma fresta, a sua sombra
Que se separa do seu último eco.

Uma sombra cónica sacudida
Pelas viaturas que passam
O deserto faz girar o cobre da areia
Na água do sol
E mais longe no oiro do vento
Flutua uma pele rubra
Em forma de águia
Janelas cegas e colunas de argila
Apontam para os “Ksars” de Tataouine.

- Tataouine: cidade do sul da Tunísia;
o seu nome berbere significa: fontes de água